Guilherme Santos Neves, folclorista capixaba, exalta a
importância social do folclore:
“(...) O folclore ̶ Umas
das mais pitorescas. Das mais interessantes ciências humanas é, sem dúvida, o
folclore, que estuda e interpreta o saber, ou melhor, a sabedoria popular, ou
melhor ainda, a própria alma do povo, que se manifesta e projeta através doq eu ele, povo, canta,
conta ou faz.
Por aí
bem se pode sentir a extensão e latitude do seu campo de pesquisa: a poesia, a
música popular, que se ramificam e florescem nas cantigas, nas trovas singelas,
nas canções de ninar, nas xícaras e romances velhos, nas modinhas e lundus, nos
abecês e desafios. A dança, ao autos e dramatizações, com os reisados,
lapinhas, cheganças, fandangos, marujadas, congos, pastorinhas e cavalhadas. Os
folguedos infantis, com suas rodas ou rondas, parlendas e pegas, jogos e
brinquedos, histórias e lendas sua gíria colorida. As supertições e crendices, que
se alastram por todos os aspectos da vida humana: orações fortes, conjuros,
ensalmos, patuás, assombrações e presságios, medicina popular. A linguagem do
povo, com os provérbios, adivinhas, símbolos e mímica, frases feitas, apelidos,
calão ̶ emfim, todo o saber popular, toda a ciência ou
sabedoria do povo, variada, multiforme e pinturesca ̶ este
o material copioso sobre que se levanta e se apoia o folclore ̶ a
ciência das tradições populares.
À
primeira vistam há de parecer a muita gente ser o folclore passatempo do vulgo
e das crianças, coisa inconsequente e frívola, velharia que convinha antes
arquivar e esquecer, nesta fase tão apurada e trepidante da civilização. Há,
felizmente, os que conhecem e proclamam as múltiplas vantagens do folclore e a
necessidade do seu estudo e aplicação, porque, através dos elementos que o
compõem, se revela a céu aberto a alma coletiva, por meio da qual se poderá
sondar mais fundamente a alma humana.
A nosso
ver, existe ainda um sentido mais nobre, mais íntimo, no estudo e aplicação do
folclore ̶ é o afetivo rememorar das coisas idas, o
reviver da cultura tradicional do povo, essa volta, esse retorno sentimental ao
passado, tantas e tantas vezes preciso, para melhor se viver o presente e
estruturar o futuro. (...)”
Trecho do livro “Coletânea de estudos e registros do
folclore capixaba (1944-1982)”, v. 1, págs. 61 e 62.
REFERÊNCIA:
NEVES, Guilherme Santos; NEVES, Reinaldo Santos. Coletânea de estudos e registros do folclore capixaba: 1944-1982. Vitória, ES: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas do Espírito Santo, 2008.
REFERÊNCIA:
NEVES, Guilherme Santos; NEVES, Reinaldo Santos. Coletânea de estudos e registros do folclore capixaba: 1944-1982. Vitória, ES: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas do Espírito Santo, 2008.